Silêncio e Contemplação
Para discernir a voz interior do Espírito, seja durante a leitura das Escrituras, seja durante a oração, faz-se necessária uma atitude de escuta que envolva ao mesmo tempo atenção, confiança e abandono.
O silêncio externo favorece essa disposição do espírito humano, mas a condição mais importante para seu pleno estabelecimento é o silêncio interior, um estado de atenção pura, de quietude e pacificação do corpo e da mente, em que a corrente de pensamentos, preocupações e imagens que constantemente a atravessa tenha sido significativamente atenuada, quando não (momentaneamente) interrompida. O aprofundamento desse silêncio – e o repouso nesse estado – denominam-se contemplação.
A contemplação não tem necessariamente um conteúdo, um objeto (contemplar algo). É mais acertado dizer que, em tal estado, e mesmo sem ter consciência disto, o contemplativo deixa-se arrastar pela torrente de amor que o Pai e o Filho se endereçam continuamente, no Espírito.
Alcançar este estado é uma dádiva da Graça, e independe da maestria de qualquer técnica. Isto não invalida, porém, a colaboração do homem, que idealmente deve dar assentimento à ação do Espírito, dispondo-se favoravelmente na atitude de escuta acima descrita ou, em termos evangélicos, tornando-se “como as crianças” (Mt 18, 3).
Sérgio de Morais